Por Tatiana Borsoi - Blog O Segredo
O que as pessoas mais valorizam em suas vidas? Se é certo que
cada pessoa sente e valoriza objetos diferentes, também é certo que tais
escolhas e valores são marcados culturalmente, pela época e lugar que vivemos,
pela sociedade a qual fazemos parte.
Na sociedade contemporânea, chamada SOCIEDADE DE CONSUMO,
podemos dizer que o valor dominante é atravessado cada vez mais pelo discurso
do TER. TER PROPRIEDADES, POSSES, MERCADORIAS, DINHEIRO, STATUS, PODER. TER
CARRO do ano, ROUPA de grife, o CELULAR mais moderno. O trabalho bem remunerado
é mais valorizado que o trabalho que traz satisfação, afinal, trabalho deve
proporcionar ao indivíduo meios para TER e não para tornar-se o QUE SE É.
Como na fábula O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, onde o
principezinho se depara com personagens que ABSORVIDOS demais por seus AFAZERES
e CRENÇAS pessoais que não conseguem enxergar nada além de si, assim a
sociedade atual é marcada cada vez mais pelo individualismo. Esta FÁBULA nos
apresenta personagens cheios de simbolismos: o REI, que apesar de isolado tenta
manter seu status e continua fingindo dar ordens; o VAIDOSO, que só escuta o
que lhe agrada e se fecha em si mesmo; o CONTADOR, que só pensar em possuir,
acumular mesmo que não entenda o propósito ou finalidade de tais objetos; o
ACENDEDOR DE LAMPIÃO, que apesar de uma ocupação útil está tão absorvido por
esta que não vê a vida passar; e o SÁBIO, que apesar de muito conhecer, pouco
sabe do que se passa ao seu redor.
O principezinho olha tudo com estranhamento e se espanta ao
concluir como “NÓS ADULTOS” damos importância a coisas que são INÚTEIS, e como
tudo isto nos leva a SOLIDÃO, ainda quem em meio às CENTENAS de pessoas.
Deveríamos assim como o pequeno príncipe lançar por vezes um
olhar de estranhamento sobre nós mesmos. Assim como os personagens de
Saint-Exupéry por vezes nos vemos valorizando exageradamente coisas que em sua
essência são INÚTEIS; insistindo em atividades socialmente aceitas, mas que não
estão de acordo com nossos valores e que por fim, nos adoecem; POSSUINDO
OBJETOS, SENTIMENTOS, RELAÇÕES que já não sabemos mais para que nos servirão;
mantendo as APARÊNCIAS para preservar um STATUS que já não nos cabe mais.
Nesse contexto, a vida torna-se volátil, as relações tornam-se
fluidas… e nós também. Em uma SOCIEDADE marcada pelo EFÊMERO, pelo APELO ao
CONSUMO, aqueles que não têm, querem parecer ter e desta forma, a
pós-modernidade promove o culto às aparências e o TER torna-se um fim em si
mesmo, alienando o sujeito de si.
Isto não ocorre sem prejuízos…. Sem que se pague um preço, às
vezes caro, à SAÚDE PSÍQUICA. Alguém que SE ALIENA DE SI MESMO facilmente
substitui o SER pelo TER, e em lugar de afetos, vivências, relações, falseia a
própria existência, construindo simulacros de vida. A felicidade buscada pode dar
lugar à sentimento de VAZIO EXISTENCIAL e falta de sentido e por este motivo a
melancolia, depressão e ansiedade têm se apresentado como doenças
características da sociedade contemporânea. O TER saudável só se dá quando é
REFLEXO de um SER que se reconhece, de um Ser autêntico. Uma vida edificada
sobre um Ser alienado produz aprisionamento, e a angústia que não é elaborada
produz adoecimento.
O reconhecimento da própria identidade é um processo árduo,
muitas vezes doloroso de expansão psíquica, mas ao fim libertador, pois, a
única verdade capaz de transformar é aquela que desnuda a mentira escondida em
nós. Só conhecendo-se a si mesmo é possível conhecer além… o essencial, como
disse Saint-Exupéry, é realmente invisível aos olhos…''
Nenhum comentário:
Postar um comentário