segunda-feira, 6 de março de 2017

SER OU TER? EIS A QUESTÃO - Sobre o Vazio da Sociedade Contemporânea



Por Tatiana Borsoi - Blog O Segredo 

O que as pessoas mais valorizam em suas vidas? Se é certo que cada pessoa sente e valoriza objetos diferentes, também é certo que tais escolhas e valores são marcados culturalmente, pela época e lugar que vivemos, pela sociedade a qual fazemos parte.
Na sociedade contemporânea, chamada SOCIEDADE DE CONSUMO, podemos dizer que o valor dominante é atravessado cada vez mais pelo discurso do TER. TER PROPRIEDADES, POSSES, MERCADORIAS, DINHEIRO, STATUS, PODER. TER CARRO do ano, ROUPA de grife, o CELULAR mais moderno. O trabalho bem remunerado é mais valorizado que o trabalho que traz satisfação, afinal, trabalho deve proporcionar ao indivíduo meios para TER e não para tornar-se o QUE SE É.
Como na fábula O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, onde o principezinho se depara com personagens que ABSORVIDOS demais por seus AFAZERES e CRENÇAS pessoais que não conseguem enxergar nada além de si, assim a sociedade atual é marcada cada vez mais pelo individualismo. Esta FÁBULA nos apresenta personagens cheios de simbolismos: o REI, que apesar de isolado tenta manter seu status e continua fingindo dar ordens; o VAIDOSO, que só escuta o que lhe agrada e se fecha em si mesmo; o CONTADOR, que só pensar em possuir, acumular mesmo que não entenda o propósito ou finalidade de tais objetos; o ACENDEDOR DE LAMPIÃO, que apesar de uma ocupação útil está tão absorvido por esta que não vê a vida passar; e o SÁBIO, que apesar de muito conhecer, pouco sabe do que se passa ao seu redor.
O principezinho olha tudo com estranhamento e se espanta ao concluir como “NÓS ADULTOS” damos importância a coisas que são INÚTEIS, e como tudo isto nos leva a SOLIDÃO, ainda quem em meio às CENTENAS de pessoas.
Deveríamos assim como o pequeno príncipe lançar por vezes um olhar de estranhamento sobre nós mesmos. Assim como os personagens de Saint-Exupéry por vezes nos vemos valorizando exageradamente coisas que em sua essência são INÚTEIS; insistindo em atividades socialmente aceitas, mas que não estão de acordo com nossos valores e que por fim, nos adoecem; POSSUINDO OBJETOS, SENTIMENTOS, RELAÇÕES que já não sabemos mais para que nos servirão; mantendo as APARÊNCIAS para preservar um STATUS que já não nos cabe mais.
Nesse contexto, a vida torna-se volátil, as relações tornam-se fluidas… e nós também. Em uma SOCIEDADE marcada pelo EFÊMERO, pelo APELO ao CONSUMO, aqueles que não têm, querem parecer ter e desta forma, a pós-modernidade promove o culto às aparências e o TER torna-se um fim em si mesmo, alienando o sujeito de si.
Isto não ocorre sem prejuízos…. Sem que se pague um preço, às vezes caro, à SAÚDE PSÍQUICA. Alguém que SE ALIENA DE SI MESMO facilmente substitui o SER pelo TER, e em lugar de afetos, vivências, relações, falseia a própria existência, construindo simulacros de vida. A felicidade buscada pode dar lugar à sentimento de VAZIO EXISTENCIAL e falta de sentido e por este motivo a melancolia, depressão e ansiedade têm se apresentado como doenças características da sociedade contemporânea. O TER saudável só se dá quando é REFLEXO de um SER que se reconhece, de um Ser autêntico. Uma vida edificada sobre um Ser alienado produz aprisionamento, e a angústia que não é elaborada produz adoecimento.
O reconhecimento da própria identidade é um processo árduo, muitas vezes doloroso de expansão psíquica, mas ao fim libertador, pois, a única verdade capaz de transformar é aquela que desnuda a mentira escondida em nós. Só conhecendo-se a si mesmo é possível conhecer além… o essencial, como disse Saint-Exupéry, é realmente invisível aos olhos…''



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Não somos obrigados a aguentar tudo. Paciência tem limites!



Por Sílvia Marques Blog Garota Desbocada

A vida é feita para ser vivida , não suportada. Quando somos obrigados a relevar tudo, ignorando os nossos sentimentos , ignorando feridas ainda abertas, impomos a nós mesmos uma espécie de tortura psicológica. E não devemos impor sofrimento a ninguém, incluindo a nós mesmos, para agradar as outras pessoas.

Ser gentil, amigável e prestativo é uma coisa ótima. Se mais pessoas dispusessem de um pouco do seu tempo e energia para ajudar os outros , provavelmente o mundo seria um lugar bem menos hostil e viver seria muito mais leve.

Por outro lado, não devemos confundir gentileza com passividade. Não devemos permitir que abusem da nossa boa vontade e passem por cima de nós porque somos bonzinhos e vamos aceitar e perdoar tudo.

Acredito firmemente no perdão. Porém, acredito também que deve ser perdoado quem pede perdão, quem deseja ser perdoado, quem demonstra arrependimento e vontade de dar um novo rumo para a relação.

Não, não somos obrigados a aguentar tudo. Paciência tem limites. Ninguém precisa sair pelo mundo se vingando, mas também ninguém deve ser obrigado a conviver e a ser gentil e a distribuir beijinhos e sorrisinhos para quem nos provocou sofrimento, para quem nos magoou gratuitamente.

Na maioria das vezes, como afirma o ditado popular , quem bate , esquece . Mas quem apanha não. Quando ofendemos ou prejudicamos de forma mais objetiva uma pessoa , causando danos à sua vida , devemos sim tentar consertar o que fizemos de errado ou pelo menos tentar amenizar de alguma forma o estrago que provocamos.

Sim, nem sempre é possível consertar nossos erros. Nem sempre é possível se aproximar de quem prejudicamos para demonstrar nosso arrependimento. Em alguns casos , nos mantermos longe é o melhor a se fazer. Mas neste post, quero me centrar nos casos em que é possível voltar atrás e corrigir o erro e mesmo assim a pessoa se recusa. Quero me centrar no fato de que ninguém é obrigado a engolir tudo porque é gentil e amigável.

A vida é feita para ser vivida , não suportada. Quando somos obrigados a relevar tudo, ignorando os nossos sentimentos , ignorando feridas ainda abertas, impomos a nós mesmos uma espécie de tortura psicológica. E não devemos impor sofrimento a ninguém, incluindo a nós mesmos, para agradar as outras pessoas.

Não, não somos obrigados a conviver com gente que nos põe para baixo com um sorriso falso nos lábios e palavras pseudo educadas. Não somos obrigados a conviver com gente que rouba o nosso ar, que baixa a nossa energia , que nos promove qualquer tipo de constrangimento. Não somos obrigados a agradar quem não se esforça minimamente para nos alegrar. Não somos obrigados a nos sacrificar por quem não dá a mínima por nossos sentimentos. Não somos obrigados a compreender e a demonstrar empatia por quem nos atropelou feito um trator.


Como disse Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Sim, somos nós que conhecemos os nossos limites e sabemos até onde podemos caminhar sem forçar as articulações da alma. Somos nós que podemos mensurar o peso de uma ofensa e a extensão de um estrago sofrido em nossa vida.